Bem pensado, sem dúvida mas como sabemos longe de traduzir a realidade deste nosso país, com velhas fronteiras e longa história. Daqui resulta podermos pensar que nos querem fazer esquecer, princípios, direitos, tempos, espaços e vivências que tão ciosamente deveríamos proteger e divulgar como forma de fazer chegar às gerações futuras.
É claro que falar de Património e Cultura não é fácil, tendo em consideração os aspectos atrás mencionados. Muito menos é passível de consenso. Sabemos disso, mas o rumo infantilizado dos espaços arquitectónicos e artísticos do país será solução para consenso?
É notório e cada vez mais frequente encontrar-mos informação e orientação na visita a museus, espaços limitados ou amplos, dos quais destaco os arqueológicos em que as orientações e a tentativa de levar ao grande público a total noção do(s) projecto(s) e da ideia (conceito), quase nem sempre o mais saudável, diga-se, nos deixa sem dúvidas embasbacados quase perante uma visita guiada a um parque infantil em que as orientações são de tal forma evidentes e “grotescas” que a liberdade de pensar, reflectir sobre os lugares e sentir o pulsar da sua existência é banido por falta de espaço e respeito, sendo definido por outros o(s) critério(s) que cada um deveria construir fruindo dos lugares e assim sim, teríamos um “modo de desenvolvimento da personalidade através da realização cultural”, ponto 1 do art.7.
Sabendo nós que a sensibilidade de cada um dita a observação da arte, em tudo subjectividade logo diferença, como é possível permitir este rumo aos nossos monumentos, legado cultural, grande parte já, Património da Humanidade? Quem, em seu pleno juízo, permite que uma visita se faça guiada por candelabros que iluminam o que os outros entendem merecer observação? E o sentido crítico de cada um? E o direito ao pensar e sentir diferente? E o respeito pelo pensamento dos nossos antepassados?
Creio firmemente, que a prioridade de um Ministério da Cultura em pleno uso do seu legado e responsabilidades, deverá passar por uma política transversal na recuperação, classificação e dignificação do que existe, com especial preocupação para o um conjunto muito considerável de “peças” estruturas e espaços que, olhados e classificados uma vez, caem no esquecimento, entrando num tal processo de degradação de si e do meio envolvente que é aviltante, para quem, consciente dos seus direitos e cumpridor dos seus deveres se vê privado de um mundo seu por legado, roubado por incúria e ignorância. A lista de exemplos seria de facto extensa de Norte a Sul do país Continente e Ilhas, dinheiros do erário público esbanjado de forma inconsciente atrasos em obras de décadas e sem nunca haver justificações plausíveis.
O objectivo não é criarmos soluções miraculosas ou pessoais, antes pelo contrário somos igualmente responsáveis e devemos fazer parte das críticas, construtivas pois claro! Deverá ser um alerta para que o rumo da política Cultural – reconhecimento, classificação e restauro – no nosso país, passe a ter em consideração a dignidade que IX Séculos de história merecem.
E nós também.
Em Agosto de 1721, Diogo de Mendonça Corte Real, subscreve o 1º documento de que há registo, com as preocupações e inquietudes originadas pela falta de reconhecimento e preservação de tudo quanto se considerava à data, e muito bem, parece-me, o património histórico e cultural, mas III Séculos volvidos, é deveras preocupante a precaridade de métodos, de trabalho, meios e pessoas disponíveis com conhecimento para intervir em pleno direito, no legado cultural e patrimonial.
Celso Alves Ferreira
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